Tenso. Intenso. Extenso.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Fardo

Dói. As idas e vindas sempre doem. Me fazem arder e dilaceram as minhas visceras. Ele não tinha a menor piedade dela. Fazia o que bem queria, lambuzava-se a noite inteira, embriagava-se no seu amor para, de repente, ir embora depois sem deixar vestígios. A ausência de vestígios enlouqueciam-na porque na sua cabeça era tudo muito vivo, mas a realidade era vazia dele. É humilhante pensar tanto em alguém que não existe, que não se deixa existir. A sua pele está marcada por toda parte, esse sim é o maior vestígio, mas, quem enxerga? Ninguém. Ela anda pelas ruas de sua cidade com um ar de procura com o qual todos já se acostumaram, não percebem mais a sua dor. Ela mesma quase se acostumou com a carne se rasgando quando a brisa traz passageira um perfume, uma sugestão do perfume, uma lembrança louca dele. Mas, o cheiro passa no momento em que ela relembra o imemorável. É de pirraça que o vento faz isso, brinca com ela como o seu amado e isso reaviva o seu pensamento ainda mais. Dói. Dói. Dói. A dor é a única certeza da sua existência. Uma coisa assim, tão forte, tão dilacerante não podia vir só da sua cabeça. Ninguém teria essa tendência masoquista tão acentuada...ou teria?...Depois de meses, anos, ela não sabe ao certo, ele volta como se tivesse partido ontem. Um beijo basta para acorrentá-la. O vento agora bate nos seus cabelos, bagunça um pouco e para. Um presságio! Dessa vez ele fica, dessa vez ele me ama, dessa vez ele me quer. Ele me quer! Ela se deixa abraçar e dança conforme o ritmo dele. Com ele uma coisa sempre leva a outra, um beijo sempre leva a um abraço e um abraço sempre leva ao desejo. Eles ardem. Ele de saudade, ela de raiva. Raiva. Ódio!Pela primeira vez ela o odeia, e o consome como tal. Arranha todos os pedaços de pele que pode, tenta marcá-lo como o seu toque a marca. Tenta odiá-lo com a mesma intensidade que ele se faz presente mesmo na ausência. Tenta rasgá-lo como ele a destrói. Ele a segura e agora a única forma de evadir o seu ódio é no grito que se faz ouvir na madrugada. Um gozo, uma morte, qualquer que seja possuem a mesma profundidade; carregam a mesma mágoa, desnorteiam da mesma maneira.

Um comentário:

  1. Amiga, que texto lindo! Você expressou tudo que eu tenho sentido nesses meses! Amei!

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