Tenso. Intenso. Extenso.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Começo, meio e fim

A cronologia faz sentido até o momento em que eles se encontram. Seus olhos firmemente fixados uns nos outros, cada um enxergando o âmago do outro e se reconhecendo no brilho das cores que se refletem na íris. Arco-íris. Cores que apaixonam, que convidam ao silêncio, à brandura, à admiração e à constatação de que momentos assim são incontáveis quando se está junto um do outro.

Contar. Contar os batimentos cardíacos, os suspiros, as risadas. Contar para quê se nada é de se pensar quando estão juntos, mas de se sentir.

Sentir. Flutuar em contato com a cama, com o chão, com a parede. O atrito existe, mas é ignorado porque se olham e se entregam a mais uma dose de esquecimento das coisas mesquinhas da vida.

Mas a sensação de bem estar era pertubadora demais. O medo. A intensidade assustou o que se achava ferido por demais e a distância apareceu na história.

Distância.

Distante.





D-i-s-t-a-n-t-e-s.
Os dias voltaram a obedecer um calendário e as horas a serem contabilizadas.
Contar voltou a ser uma constante.

domingo, 20 de novembro de 2011

Dia Azul

Olha para o céu
na tentativa de ser iluminada
com algo de fora, algo grandioso.
Mudar de planos, sublimar a realidade.
Encara o céu
e mergulha em pensamentos desconexos.
Volta à realidade e se depara com um azul sem limites.
Hoje não é dia para nuvens.

sábado, 24 de setembro de 2011

Rota de colisão

Andar na rua, parar um cara e beijar na boca dele é absurdo.
Mas foi isso que ela fez.
De repente, dois caminhos aleatórios, duas rotas inimagináveis se chocaram por instantes.
A explosão foi grande.

domingo, 3 de julho de 2011

O começo de um fim

Bem vindos ao baile dos incansáveis! Quem entra aqui está condenado a um único destino: dançar até os pés racharem. E no meio da pista há todo tipo de gente. Tem mulher de coração partido, homem perdido, mulher solteira e raparigueira. Tcha!Tcha!Tcha! Olha a Saaaalllsa! Ai! Ai! Ai! No swing frenético do salão, as pessoas dançam de todo jeito: em casais, sozinhos, em grupos, com garrafas, não importa! O importante nesse baile é dançar e se deixar envolver. Sintam as batidas da Cumbia, elas entram no corpo por todos os lados. Ou será que elas saem dos dançarinos, pulsam em suas veias e se propagam no ar, contagiando quem estiver por
perto?

De repente, nesse cenário todo, acontece.

Um bailarino dança fervendo e capta o olhar de uma mulher que se diverte remexendo-se ao som das batidas. Ele se aproxima e puxa a sua mão num convite. Ela aceita e os dois bailam quase deslizando pelo salão e chamam a atenção de todos, apesar de só terem olhos para si mesmos e ouvidos para a música. Já estão no centro do salão quando ele a gira e a joga para cima, arrancando suspiros das mocinhas, gritos das gaiatos e inveja dos marmanjos. A cada giro que o casal dava todos começavam a perceber que o destino deles foi escrito diferentemente dos demais. Eles, mais do que todos, estavam fadados a dançar, mas, também, estavam destinados a reinar no baile. A cada giro, os seus corpos se atraiam mais e mais e as pernas deles só obedeciam à música, enquanto seus corações batiam no tempo da percussão.

Era quase um romance, mas não era.

A carne falava em paixão e o espírito em entregar-se. Entregavam-se à dança na esperança de prolongarem essa conexão estabelecida. Mas, o que eles não sabiam é que esse elo não poderia ser desfeito desligando os instrumentos. Na verdade, o que ninguém conseguia enxergar nesse momento é que eles tinham as suas almas entrelaçadas e que essa dança era o prenúncio de dias ensolarados e festivos. É questão de tempo para eles perceberem.

Todavia, atrás de toda calmaria, vem uma tempestade. No caso deles, vinha um redemoinho.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Francisca Fantástica

Francisca era uma menina pouco risonha, vivia dentro de casa e só saía para o essencial. Todos haviam se acostumado ao recolhimento da menina, mas ainda comentavam, quando ela passava, o quanto era triste ver uma menina tão nova já tão indiferente à vida.

Num belo dia, um desses dias que a quentura do sol é mais amena e a brisa rola solta refrescando o corpo num único sopro, Francisca ficou deitada na sua cama inerte. Na verdade, não se sabe bem se ela estava acordada, pois, ela mantinha os olhos abertos, mas não enxergava um palmo à sua frente com nitidez.

Francisca enxergava o vão; mantinha os olhos no horizonte como quem sonha acordado...Pronto! Já sei, ela estava acordada, mas não estava, enfim. Foi nesse instante de incerteza que uma agonia esquisita começou a se dar na personagem. Agora, escute, foi uma sensação estranha demais da conta! Foi tão intensa que os olhos de Francisca perderam a capacidade de enxergar as coisas ambientes, mas essa cegueira no presente já não era certa para o futuro, pois, a partir desse dia, ela começou a prever tudo quanto era fato que aconteceria na sua cidade.

Não demorou muito até saberem do ocorrido. As pessoas nem esperaram amanhecer e já faziam fila na porta da casa de Francisca, como se ali tivesse surgido uma santidade nova. Aura santa a casa não tinha, mas, de fato, conservava uma atmosfera mística, sabe? Pois é. E foi então que nos dias e noites seguintes, Francisca começou a fazer previsões para todos, menos para ela. Pois eu também achei muito estranho quando soube, mas, o fato é que a nossa personagem não conseguia ver o seu futuro. Veja que situação triste, meu caro, ela não enxergava nem o seu presente, nem o seu futuro. E a sua cabeça ficava tão consternada com as preminições que mal dava tempo da coitada lembrar do seu passado...

Francisca, então, seguiu nessa sina desgraçada de ver tudo para todos, mas de possuir cegueira para a sua própria vida. Depois de alguns anos, quando ela havia se conformado com a sua sina, uma outra sensação estranha se apossa de Francisca. Dessa vez, veio com mais intensidade do que a outra e tomou um longo tempo. Dizem que ela ficou dias trancada na sua casa, que já não tinha mais gente perto, mas, sim, de longe(pois, veja bem, ficaram todos com medo, mas curiosos), então ouviu-se um grito. Mas foi um desses gritos que ficam gravados na alma da pessoa e, toda vez que alguém da cidade se lembra desse dia, escuta o grito na sua mente e tapa os ouvidos como se estivesse ocorrendo agora. Impressionante, né? Mas, mais fantástico ainda foi quando viram Francisca abrir suas asas e sobrevoar a cidade por uma semana inteira!

Pois é, VOAR! O senhor acredita? Eu só acreditei porque minha avó jurou de pé junto que era verdade e a minha vó não mente, que mentir é pecado e pense numa velha pra ter medo do inferno! Pois, continuando, Francisca, depois de voar por muito tempo, decidiu pousar de novo no solo da cidade cujo futuro lhe possuíra há semanas atrás. A primeira coisa que notaram foi que os olhos dela estavam completamente brancos! Era assustador, mas, com esses olhos brancos, Francisca havia voltado a enxergar as coisas naturalmente. Ela disse que a emoção de voltar a ver a possuiu de tal forma que suas costas começaram a latejar de dor e, no momento de liberdade plena, as suas asas surgiram e foi aí que todo mundo ouviu o grito estrondoso já citado, pois as asas rasgando a pele de Francisca causaram-lhe comoção, espanto e dor, tudo ao mesmo tempo.

Desse dia em diante, Francisca escolheu voar o mundo a fora e dizem que, de vez em quando, ela volta pra sua cidade para se lembrar do tempo em que era escrava de si mesma a fim de nunca mais se permitir fraquejar dessa forma.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Balada de Gisberta

Apagaram-se as luzes, é o futuro que parte. É o futuro que parte, fulana, quando nos encontramos perdidas nas resoluções diárias da vida. É o futuro que parte quando o coração aperta ao vislumbrar o presente não pré-meditado. É o futuro que parte quando as certezas são substituídas por dúvidas. Ah, fulana! Se tu soubesses das minhas dúvidas, dos meus medos, das minhas angústias, dirias: deixa disso, cicrana, de onde surgiram tantas indagações? Ou talvez, fulana, entrarias no olho do furacão e te deixarias ser levada pelo vendaval da vida que está sendo redesenhada na minha cabeça. Segura-te, Fulana! Aqui vem uma tempestade sem fim! Aqui vêm nuvens carregadas de questões mal resolvidas, de lágrimas reprimidas, de dores inconsoláveis. Ah, fulana! Por quê? Ora, porquê, tu dirias, a vida é assim, um dia se dança em palácios, noutro nas ruas.
...

E que intensidade de preto se instalou na minha vida, fulana. Cadê o amarelo vivo que pulsava em minha alma e derramava luz em todos os meus sonhos? Pois, é, fulana, a distância até o fundo é tão pequena. Foi o futuro que partiu a cem por hora, deixando apenas as frustrações de não ter conseguido ser o que se queria. Com um olhar vazio, contagiado pela angústia, tu me dizes, fulana: E o amor? Eu te digo: Ah, o amor, o amor é tão longe.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Finito

A gente tentou de tudo. Ele abriu os olhos e deu de cara com a luz que invadia a sua janela. No comeco, foi difícil, acordava muito cedo sempre porque a janela era enorme e iluminava demasiadamente o seu quarto. Pensou em comprar um black-out, mas adiou tanto que desistiu. Mentira, agora não fazia diferenca mesmo. Ela não dormia mais ali, então a luz era um problema dele. Exclusivamente meu! Bufou aos quatro ventos durante dias esse pensamento. Haviam tentado de tudo de fato, mas às vezes não há o que tentar. Havia apenas a resignação e essa ainda estava cravada na garganta deles, não queria ser engolida de forma alguma. Ela queria ser vomitada por ambos e eles queriam tentar de novo algo que já havia findado. Tudo é finito. Finito. F-I-N-I-T-O. Essa palavra simplesmente nao se enquadra a nós, somos eternos, sempre achei que fôssemos eternos. Como pode duas almas, antes felizes, serem agora dois vultos amargurados...Como pode ser que eu tenha ficado assim? Ele levantou da cama e foi lavar o seu rosto. Já é tempo de seguir em frente. Ja é tempo de eu acordar e não pensar nisso. Tomou um banho refrescante, sentiu-se melhor. Resolveu, então, sair de casa. Andou pra qualquer lugar, pensou em ir no lago pra fumar um cigarro e deitar-se na grama. O céu estava um azul infernal. Inferno. É lá que eu tenho morado. Tragou do seu cigarro e ficou olhando o nada. Pensamento já cansado de pensar nisso, mas, não era algo de que se esqueceria com algumas noites mal dormidas e uns tragos de cigarro regados à whisky. Não se esquece nunca de um passado feliz. Não se esquece nunca dos próprios erros, principalmente, se eles acabaram com toda a
felicidade inesquecível. Fechou os olhos, inspirou o ar limpo e divagou na esperança de mudar essa situação insistente. Concentrou-se na sua respiração e acabou caindo no sono.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

O Sol

O sol nasce para todos. Ela o fitava. A luz parecia lhe anunciar algo... não sabia ao certo o que, mas sabia que seria um conforto. As coisas pareciam não importar mais diante do astro e, pela primeira vez durante esses anos, conseguiu parar de pensar e se deixar banhar pelos raios quentes e acolhedores. As dores, as mágoas, os erros, nada mais importava porque ela estava tendo uma chance de sentir algo diferente. Era quase uma alegria.
Ele dava as costas ao sol.