Tenso. Intenso. Extenso.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Francisca Fantástica

Francisca era uma menina pouco risonha, vivia dentro de casa e só saía para o essencial. Todos haviam se acostumado ao recolhimento da menina, mas ainda comentavam, quando ela passava, o quanto era triste ver uma menina tão nova já tão indiferente à vida.

Num belo dia, um desses dias que a quentura do sol é mais amena e a brisa rola solta refrescando o corpo num único sopro, Francisca ficou deitada na sua cama inerte. Na verdade, não se sabe bem se ela estava acordada, pois, ela mantinha os olhos abertos, mas não enxergava um palmo à sua frente com nitidez.

Francisca enxergava o vão; mantinha os olhos no horizonte como quem sonha acordado...Pronto! Já sei, ela estava acordada, mas não estava, enfim. Foi nesse instante de incerteza que uma agonia esquisita começou a se dar na personagem. Agora, escute, foi uma sensação estranha demais da conta! Foi tão intensa que os olhos de Francisca perderam a capacidade de enxergar as coisas ambientes, mas essa cegueira no presente já não era certa para o futuro, pois, a partir desse dia, ela começou a prever tudo quanto era fato que aconteceria na sua cidade.

Não demorou muito até saberem do ocorrido. As pessoas nem esperaram amanhecer e já faziam fila na porta da casa de Francisca, como se ali tivesse surgido uma santidade nova. Aura santa a casa não tinha, mas, de fato, conservava uma atmosfera mística, sabe? Pois é. E foi então que nos dias e noites seguintes, Francisca começou a fazer previsões para todos, menos para ela. Pois eu também achei muito estranho quando soube, mas, o fato é que a nossa personagem não conseguia ver o seu futuro. Veja que situação triste, meu caro, ela não enxergava nem o seu presente, nem o seu futuro. E a sua cabeça ficava tão consternada com as preminições que mal dava tempo da coitada lembrar do seu passado...

Francisca, então, seguiu nessa sina desgraçada de ver tudo para todos, mas de possuir cegueira para a sua própria vida. Depois de alguns anos, quando ela havia se conformado com a sua sina, uma outra sensação estranha se apossa de Francisca. Dessa vez, veio com mais intensidade do que a outra e tomou um longo tempo. Dizem que ela ficou dias trancada na sua casa, que já não tinha mais gente perto, mas, sim, de longe(pois, veja bem, ficaram todos com medo, mas curiosos), então ouviu-se um grito. Mas foi um desses gritos que ficam gravados na alma da pessoa e, toda vez que alguém da cidade se lembra desse dia, escuta o grito na sua mente e tapa os ouvidos como se estivesse ocorrendo agora. Impressionante, né? Mas, mais fantástico ainda foi quando viram Francisca abrir suas asas e sobrevoar a cidade por uma semana inteira!

Pois é, VOAR! O senhor acredita? Eu só acreditei porque minha avó jurou de pé junto que era verdade e a minha vó não mente, que mentir é pecado e pense numa velha pra ter medo do inferno! Pois, continuando, Francisca, depois de voar por muito tempo, decidiu pousar de novo no solo da cidade cujo futuro lhe possuíra há semanas atrás. A primeira coisa que notaram foi que os olhos dela estavam completamente brancos! Era assustador, mas, com esses olhos brancos, Francisca havia voltado a enxergar as coisas naturalmente. Ela disse que a emoção de voltar a ver a possuiu de tal forma que suas costas começaram a latejar de dor e, no momento de liberdade plena, as suas asas surgiram e foi aí que todo mundo ouviu o grito estrondoso já citado, pois as asas rasgando a pele de Francisca causaram-lhe comoção, espanto e dor, tudo ao mesmo tempo.

Desse dia em diante, Francisca escolheu voar o mundo a fora e dizem que, de vez em quando, ela volta pra sua cidade para se lembrar do tempo em que era escrava de si mesma a fim de nunca mais se permitir fraquejar dessa forma.